‘Bolha de calor’ pode causar um dos setembros mais quentes da história do Brasil?
- Da BBC News Brasil em São Paulo
Uma forte onda de calor atinge o Brasil na primeira quinzena de setembro, segundo alguns dos principais institutos de meteorologia do Brasil. A previsão é de que os termômetros registrem temperaturas máximas entre 40°C e 45°C em alguns Estados nesse período.
Isso poderia elevar a média da temperatura para a época e pode tornar este um dos meses de setembro mais quentes já registrados no país. Mas por que isso acontece?
A BBC News Brasil ouviu especialistas para entender se isso é algo atípico e quais fenômenos estão causando esse calor fora do comum.
Segundo o MetSul Meteorologia, uma massa de ar quente está cobrindo boa parte do Brasil e vai ganhar ainda mais força nos próximos dias. A previsão é que ela se expanda e leve altas temperaturas inclusive para o sul do país, onde as temperaturas são mais amenas nesta época do ano.
Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo, diz que ele e seus colegas de trabalho avaliam que não é possível fazer projeções de que possamos ter recordes históricos.
“Vai ser forte, mas não é possível dizer que vai bater temperatura. Não temos como afirmar isso com base nos modelos que usamos. O que enxergamos são temperaturas entre 40 e 44°C nos próximos dias. Será uma onda de calor importante”, diz.
Guilherme explica que essa onda de calor, chamada pelo MetSul de “bolha de calor”, é causada pela estabilização de uma massa de ar quente e alta pressão atmosférica em boa parte do país.
“Ela intensifica a formação do ar quente de cima para baixo dificultando a formação de nuvens de chuva e deixando o tempo mais seco.
Ele explica que é normal esse calor no mês de setembro e que em 2023 também houve uma onda de calor semelhante, mas que ocorreu na segunda quinzena do mês e não na primeira como agora.
“Isso é culpa das mudanças climáticas, que têm um papel significativo nesses extremos de calor e chuva. Isso ocorre porque nosso planeta tem que dimensionalizar energia. Essas ondas de calor e chuva extremos ocorrem para compensar esse aquecimento”, diz.
Maior temperatura da história do Brasil
A previsão do MetSul é que alguns Estados podem registrar temperaturas acima dos 40°C e isso pode agravar ainda mais a situação. Entre eles, estão Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Tocantins, Bahia, Piauí e Maranhão. A previsão é que a segunda semana seja a mais quente do mês.
Segundo os meteorologistas, o Estado que mais deve sofrer com o calor é o Mato Grosso. Isso ocorre porque ele está localizado próximo ao centro da grande cúpula de calor concentrada entre o Paraguai, a Bolívia e os estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Essa região pode registrar máximas de 45°C ou superiores.
Se isso se concretizar, o país pode registrar um recorde de temperatura em sua história.
De acordo com o MetSul, a maior temperatura registrada oficialmente na história do Brasil foi de 44,8°C na cidade de Nova Maringá, no Mato Grosso, em 4 e 5 de novembro de 2020. Na época, a marca superou o recorde de Bom Jesus, Piauí, onde foram registrados 44,7°C em 2005.
Já o Climatempo diz seguir os padrões do Instituto Nacional de meteorologia (Inmet) e afirma que a maior temperatura registrada no país foi de 44,8°C, em Araçuaí, em Minas Gerais, no dia 19 de novembro de 2023.
Problemas de saúde e risco de incêndios
De acordo com o Metsul, caso essa previsão se concretize, é uma situação de alto risco que deve preocupar as autoridades. Além da preocupação com a saúde por conta do tempo seco, que pode causar problemas respiratórios e mal estar, o instituto alerta para o aumento das chances de ocorrerem incêndios florestais.
A crise das queimadas no Brasil chamou a atenção do país há duas semanas, quando a fumaça gerada por incêndios cobriu o céu boa parte do país. Em Estados como São Paulo, aulas foram suspensas, voos foram cancelados e aeroportos temporariamente fechados.
Até terça-feira (3/9), o país já tinha registrado mais de 135 mil focos de incêndio, um aumento de 101% em relação ao mesmo período de 2023.