Escândalo de vazamento de dados derruba ações do Facebook
As ações do Facebook caíram forte nesta segunda-feira (19) depois que o presidente da empresa, Mark Zuckerberg, enfrentou pedidos de parlamentares dos EUA e Europa para explicar como uma consultoria que trabalhava na campanha de eleição do presidente Donald Trump teve acesso aos dados de 50 milhões de usuários do Facebook.
Os papéis do Facebook recuaram 6,77% e, segundo a Reuters, tiveram seu pior dia desde março de 2014, acumuçando perda de de 10,8% desde seu recorde de fechamento em 1º de fevereiro. A queda do Facebook pesou fortemente sobre o setor de tecnologia do S&P, que caiu 2,11%, bem como o Nasdaq, que recuou mais de 2%. Ambos os índices tiveram sua pior performance diária desde 8 de fevereiro.
Neste domingo (18), o Facebook informou que está investigando o vazamento de dados provocado por uma empresa britânica que trabalhou para a campanha de 2016 do presidente americano, Donald Trump. A empresa de consultoria Cambridge Analytica manipulou informação de mais de 50 milhões de usuários da rede social nos Estados Unidos.
A companhia obteve as informações em 2014 e as usou para construir uma aplicação destinada a prever as decisões dos eleitores e influenciar sobre elas, segundo revelaram neste sábado os jornais «London Observer» e «New York Times».
Depois disso, o Facebook suspendeu a conta da Cambridge Analytica e de sua matriz, Strategic Communication Laboratories (SCL), além de informar que descobriu o vazamento de dados pela primeira vez em 2015.
«Estamos dirigindo uma revisão integral, interna e externa, para determinar se são certas as informações de que os dados em questão do Facebook ainda existem», afirmou Paul Grewal, vice-presidente e membro da equipe legal do Facebook, em comunicado.
Repercussão
Este é um dos maiores vazamentos de dados na história do Facebook. Além da queda na Bolsa, a revelação do acesso indevido de dados já provoca repercussões em outros campos. Legisladores britânicos e americanos pediram explicações à empresa. A procuradora-geral do estado de Massachusetts, Maura Healey, abriu uma investigação contra a empresa.
O presidente do Parlamento Europeu disse nesta segunda-feira que os legisladores da União Europeia vão investigar se ocorreu o uso indevido de dados, ao classificar as alegações de uma violação inaceitável dos direitos de privacidade dos cidadãos. Na Alemanha, o Partido Verde também disseu que pediu ao governo alemão que informe ao parlamento sobre o impacto doméstico.
O caso poderia gerar também uma multa multimilionária para o Facebook. A suspeita é que a empresa teria violado uma regulação da Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) que protege a privacidade dos usuários de redes sociais.
«Acredito que a FTC vai querer investigar isto», disse um ex-funcionário dessa agência federal, David Vladeck, ao jornal «Washington Post».
Como foi o vazamento
Segundo a rede social, Aleksandr Kogan, um professor de psicologia russo-americano da Universidade de Cambridge, acessou os perfis de milhões de usuários que baixaram um aplicativo para o Facebook chamado «This is your digital life» e que oferecia um serviço de prognóstico da personalidade.
Com esse acesso, ele encaminhou mais de 50 milhões de perfis à Cambridge Analytica. Desses, 30 milhões deles tinham informações suficientes para serem exploradas com fins políticos. Ele conseguiu esses dados apesar de somente 270 mil usuários terem dado seu consentimento para que o aplicativo acessasse sua informação pessoal, segundo o «NYT».
Ao compartilhar esses dados com a empresa e com um dos seus fundadores, Christopher Wylie, Kogan violou as regras do Facebook, que eliminou o aplicativo em 2015 e exigiu a todos os envolvidos que destruíssem os dados coletados.
«Há vários dias, recebemos informes que nem todos os dados foram apagados», indicou o Facebook, advertindo que estava disposto a ir aos tribunais para resolver o tema.
Cambridge Analytica
Entre os investidores na Cambridge Analytica estão o ex-estrategista-chefe de Trump e ex-chefe da sua campanha eleitoral em 2016, Steve Bannon, e um destacado doador republicano, Robert Mercer.
A campanha eleitoral de Trump contratou a Cambridge Analytica em junho de 2016 e pagou mais de US$ 6 milhões a ela.
*com informações da AFP , Reuters e EFE