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Desindustrialização do Brasil favorece o Paraguai

Em meio à crise nacional, o país vizinho vira o destino de 58 empresas e gera milhares de novos empregos aos seus cidadãos.

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A inauguração, neste mês, da subsidiária da Brinquedos Estrela no município de Hernandarias, no Paraguai, confirma a tendência de grandes e médias indústrias brasileiras transferirem suas produções ao país vizinho, para escapar do câmbio e dos juros desfavoráveis, aproveitar salários e tributação mais baixos e aumentar as exportações.

Com investimentos de 2 milhões de dólares, a unidade começará com 200 empregados e montará produtos com componentes importados da China, segundo o presidente do grupo, Carlos Tilkian. De mudança estão 58 companhias até agora, registra a Confederação Nacional da Indústria, lista que inclui outros líderes setoriais como a JBS, do setor de carnes, e a Riachuelo, de vestuário.

Todas são beneficiadas pela lei das maquiladoras e dispositivos complementares de incentivo a empreendimentos industriais estrangeiros, que as isentam de impostos na importação de matérias-primas e maquinários e aplicam tributação de 1% quando a mercadoria é exportada. As vantagens incluem energia elétrica 65% mais barata, tributação de 10% incidente apenas sobre o lucro e custo de mão de obra 50% menor. O crescimento do PIB acima de 3% nos últimos anos compõe o ambiente atraente para a manufatura.

A rapidez do êxito de alguns empreendimentos chama atenção. A Texcin começou a operar em agosto de 2015 com investimento de 5 milhões de dólares do Grupo Riachuelo, 150 trabalhadores e produção de 65 mil peças por mês. Após sucessivas expansões, pretende investir outros 5 milhões de dólares neste ano, aumentar o quadro para 1,5 mil empregados e vender 600 mil peças por mês.

Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, acredita que a Texcin deve se tornar a maior geradora de empregos no Paraguai nos próximos dois anos. A companhia transferiu parte do maquinário da fábrica de Fortaleza e envia tecidos e moldes para confecção à subsidiária estrangeira. Assim, chegou a custos mais próximos aos da concorrência chinesa, com logística comparável à de uma unidade em outro estado.

As exportações das maquiladoras instaladas no Paraguai subiram 25% em janeiro, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. As autopeças, com participação de 49%, ocuparam o topo da lista. Em 2012, o setor não existia no país e seu crescimento corresponde ao definhamento do parque produtivo brasileiro, com capacidade ociosa de 54,2% em novembro. A fabricante curitibana de chicotes elétricos Yazaki puxou a fila, em 2013, e instalou-se no município de Mariano Roque Alonso. A THN e a Fujikura seguiram o mesmo rumo.

No ano passado, as peças de vestuário com conteúdo paraguaio representaram 2% das vendas no Brasil. Em 2013, em um comparativo da Fiesp, o custo de produção de uma calça era 35% menor no Paraguai. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) estima que o gasto com mão de obra e energia seja 39% inferior. “Os produtos tomam espaço dos asiáticos no mercado interno e levam o tecido brasileiro a lugares em que não entraria”, destaca Thomas Zanotto, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Fiesp. O Brasil responde por cerca de 25% das exportações de industrializados do Paraguai.
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Nos setores têxtil e de brinquedos, não se substitui a produção no Brasil, mas itens ou modelos que necessariamente seriam importados da China para obter preços finais competitivos. A substituição de importações só faz sentido dentro de uma estratégia de custos, sublinha o presidente do Centro Empresarial Brasil-Paraguai, Wagner Weber.

“Para a produção em quantidade de itens de grande valor, não há como chegar ao custo da China. A vantagem é ganhar competitividade e agilidade. Uma encomenda pode levar seis meses para vir do Oriente, enquanto produzir no país vizinho e entregar aqui demora alguns dias. Com os custos menores e as facilidades logísticas, as indústrias brasileiras podem recuperar vários consumidores, mas não ficarão competitivas nas camisetas de 2 reais”, alerta.

Diego Bonomo, gerente-executivo de Comércio Exterior da CNI, lembra que, em 2014, como consequência da melhora do Índice de Desenvolvimento Humano na década anterior, o Brasil foi excluído do Sistema Geral de Preferências (SGP) da União Europeia, mas o Paraguai permaneceu. Com isso, os produtos originários do País entram com alíquota de importação média de 15% na União Europeia, enquanto os da nação fronteiriça não são taxados.

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A Texcin, da Riachuelo, investiu 5 milhões de dólares e criou 1,5 mil empregos no Paraguai (Facebook)
Um exemplo é a unidade da brasileira Calçados Masiero na região de Paraguari, tradicional polo produtor de couro, que agora tende a se tornar uma plataforma internacional de exportação de calçados de alta qualidade fora do Mercosul, segundo prevê o Ministério da Indústria e Comércio local.

“No mundo inteiro, há movimentos similares, de arranjos regionais, como os das indústrias da Europa Ocidental com os países do Leste. Todos fazem as contas e procuram os fatores de produção de menor custo. O Paraguai, contudo, ainda é limitado por lacunas na infraestrutura social, principalmente em educação”, avalia Sherban Leonardo Cretoiu, pesquisador da Fundação Dom Cabral.
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Segundo Roger Simas, da Panamericana Consultores Associados, o governo paraguaio prevê investimentos totais de 8 bilhões de dólares nos próximos dez anos em transporte e energia, com recursos públicos e privados. O país iniciou emissões internacionais de títulos e 94% dos recursos líquidos serão direcionados ao investimento em infraestrutura, informa o Banco Central.

“Diversificar a base produtiva tem sido uma saída para as atividades em que as condições de produção no Brasil não proporcionam competitividade. É um movimento compreensível para as companhias, mas a transferência de investimentos, na prática, contribui para agravar a crise do sistema produtivo brasileiro”, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Em alguns casos, a produção no Paraguai substitui itens em que a manufatura no Brasil já foi praticamente descartada. A estratégia concentra-se na recomposição de custos, em um momento de poucas iniciativas de inovação e menos ainda de expansão. “Criar cadeias de valor que adensem a estrutura produtiva do continente e fomentar o desenvolvimento de um parceiro próximo é um bom caminho, mas isso implicaria implantar arranjos regionais mais complexos, não apenas transferir custos de produção”, julga Cagnin.

Por enquanto, prevalece a busca de custos menores. A jornada é de 48 horas semanais e as férias são de 12 dias até o primeiro quinquênio de trabalho, passam para 18 dias quando o trabalhador completa dez anos de firma e só a partir dessa etapa há possibilidade de se atingirem 30 dias. Não há Fundo de Garantia nem Imposto Sindical, as contribuições sociais são de 16,5% sobre a remuneração, diante de 20% a 23% no Brasil. Tampouco existem recolhimentos equivalentes aos destinados aos serviços sociais e de aprendizagem da indústria e do comércio (Sistema “S”).

A compressão do crédito acessível às empresas no Brasil, oferecido só pelo BNDES, é mais um empurrão para produzir em outro lugar. “O que ocorre quanto ao Finame é que, no caso da grande empresa, a nova política operacional reduziu a participação máxima da linha de crédito em TJLP, para produção e modernização.

Apesar de, em ambos os casos, ter ocorrido um aumento do prazo total, o que é positivo, em um ambiente recessivo e de instabilidade institucional a diminuição das participações gera uma perda de competitividade das empresas aqui instaladas.

O custo aumenta e elas passam a ponderar a mudança para outra região da América Latina com melhores retornos em termos de custo, facilidade tributária e taxas de juro. E uma alternativa é o Paraguai”, diz o economista Igor Rocha, diretor de Economia e Planejamento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

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